Esta pergunta abre a discussão deste tema aqui em Entre Rios. Em uma época em que discutimos desenvolvimento sustentável, preservação ambiental, uso consciente dos recursos hídricos e minerais, Entre Rios anda na contra-mão destes princípios e extrai areia de forma arcaica, matando os nossos rios.
Entre Rios, como o próprio nome diz, é uma cidade que foi batizada pelos rios Brumado e Camapuã. Se não cuidarmos deles, corremos o risco de morarmos em uma cidade que tem "Rios" no nome, mas sem "rios", de fato, para bebermos água e manter o equilíbrio da nossa fauna e flora.
Mas acreditamos na força do cidadão, principalmente em fazer os debates. Meu grande amigo, biólogo, professor e presidente da ONG Eco Paz, Evandro Diniz, aponta uma alternativa para poder público, empresários e sociedade para extração de areia de uma forma sustentável, que não agride o meio ambiente.
Leia o artigo que ele escreveu na última edição do jornal Correio de Minas e dê sua opnião.
Por Evandro Diniz, biólogo
A matéria está sempre em transformação. As partículas estão sempre transitando de uma “coisa” para outra, seja nos corpos brutos ou nos seres vivos, sempre sendo conduzidos pela água (direta ou indiretamente).
A areia, por exemplo, usada em construções ou na moela das aves para triturar o alimento é formada a partir da erosão de rochas como o arenito. O desgaste de tais rochas não representa sua morte, é uma transição.
Os grãos de areia são arrastados pelas chuvas e depositados no fundo dos rios ajudando a encher suas caixas (ou calhas). Os rios ficam mais rasos e quando chove, a água se espalha pelas várzeas nutrindo o solo. A areia, junto com as matas ciliares também serve como suporte para as laterais do rio, impedindo o desmoronamento das ribanceiras.
No rio raso, as nascentes próximas correm na superfície. Num rio muito explorado e com a caixa profunda, a água é drenada por ele (o rio também tem sede), secando os terrenos próximos e funcionando como um dreno. A terra ressecada começa a se movimentar, causando trincas em construções próximas e possibilitando voçorocas.
Um rio desprotegido fica com a água turva e cheio de detritos comprometendo a saúde do mesmo e dos seres que usufruem de sua água.
Nos países desenvolvidos é grande o envolvimento pela revitalização dos rios, o que garante melhoria nas condições de vida da população. Rios com água poluída potencializam a incidência de muitas doenças, comuns em países subdesenvolvidos.
Não é pobreza que gera pobreza. É, principalmente, a irresponsabilidade de alguns e a apatia de outros.
Notem que a areia faz parte do rio e é vital para ele, assim como o sangue é para nós. Podemos doar certo volume de sangue para salvar vidas. Excedendo esse volume, o doador morre. Da mesma forma a extração excessiva de areia nos rios condena-os à morte. É fundamental uma trégua para eles recuperarem.
Mas como ficam as construções, questionarão alguns?
Como são feitas as construções onde não há rios para a extração de areia, perguntarão outros?
São necessárias respostas ou tentativas de respostas, para essas questões e todos que puderem devem participar.
Areia é um recurso mineral explorado com autorização do DNPM (Departamento Nacional de Prospecção Mineral), mediante estudos técnicos prévios: primeiro a licença para pesquisa e posteriormente licença para prospecção. É necessário o aval federal, estadual e municipal para tal atividade.
A região minerada deve passar por um processo de recuperação. Para isso, é necessária a apresentação prévia de um projeto para recuperação da área degradada (PRAD).
Todas essas etapas deveriam ser de conhecimento de todos e devidamente fiscalizadas pelos órgãos competentes para que a sociedade não fique tão exposta, principalmente as próximas gerações.
Obs. O modelo atual de construção precisa de areia - é fato.
Os rios não conseguem mais fornecer areia com qualidade e em quantidade, também é fato.
Outra alternativa terá que ser encontrada, atendendo às necessidades de todos (dos mineradores, dos construtores e das pessoas que precisam dos rios).
Já que a areia é fruto de uma erosão lenta, de rochas como o arenito ou do gnaisse, e posteriormente carregada para os rios, deveriam pensar em moer essas rochas em britadores acelerando o processo que a natureza leva anos. Assim obteriam areia pura, com várias espessuras (atendendo a necessidades específicas) e com menor impacto ambiental. Jazidas minerais para esse fim existem na nossa região.
Seria bom que os próximos administradores públicos tivessem condições (e coragem) para enfrentar esse problema e criar uma solução (que atenda a todos).
*Esse modelo de produção de areia industrial já ocorre em cidades de Minas Gerais, como Caratinga e
Matias Barbosa e em vários outros estados brasileiros. Pesquisem a esse respeito.
Os mineradores podem contar com financiamento especial do BNDES para esse fim. Pesquisem a respeito.
Até o próximo.
Achei a matéria necessária e urgente. É triste ver em Entre Rios muitas pessoas dizerem "nem queria falar desse assunto pois vai mexer com gente grande, esse problema é como caixa de maribondo". Mas acho que caixa de maribondo machuca muito quando somos poucos, mas se mais pessoas pessoas se juntarem nesta luta forçaremos os poderes públicos e alguma coisa de positivo vai acontecer... pois nada segura a força de um povo organizado e que sabe onde quer chegar. Parabéns Evandro e ao blog nação jovem
ResponderExcluirAlexandre, parabenizo pelos assuntos discutidos no blog. Acho de grande importância levantarmos problemas/debates como estes que realmente são sérios para a sociedade, por mais que muitos pensem que estão longe destas questões. Além do assoreamento causado com a extração contínua de areia, os rios da nossa cidade também recebem todo o esgoto sem tratamento, necessitando a efetividade do projeto de Estação de Tratamento (ETE). Muito me agrada ler artigos como o do Evandro (Serviços Ambientais), onde além dos problemas são apontadas possíveis soluções. Abraço, Fábio.
ResponderExcluirEste é um problema antigo que ninguém quer falar. Se o povo por em pauta e debater, podemos encontrar soluções e fazer as coisas relativas ao meio ambiente mudarem.
ResponderExcluiro problema que quando mexe com política (caso da areia em Entre Rios), tudo fica do agrado que quem mexe, e nunca do modo certo como deveria ser as coisas! essa extração de areia em nosso rios é uma vergonha! não culpo um ou outro, o sistema todo em si é falho, engloba todos os envolvidos!
ResponderExcluirAlém dos danos causados pela extração inconsequente de areia ao meio ambiente. É importante dizer que lá na comunidade do Rio Abaixo (Jeceaba), tem um indivíduo tão imbecil que chegou a extrair areia próximo a uma ponte que agora tem seu tempo de vida útil consideravelmente reduzido.
ResponderExcluirNada como as palavras sabias de quem entende do assunto, e principalmente quando são ditas com boas intenções. Valeu Evandro, todos nós reconhecemos seus esforços para disseminar boas idéias.
ResponderExcluirParabéns Alexandre, pela iniciativa e pela intenção, que visivelmente não visa nada além de ajudar nossa cidade a crescer e prosperar com responsabilidade e senso crítico!
Parabéns Alexandre e a cada um dos inteligentes comentários. Acredito nesta geração que vem aí, jovens conscientes e independentes das amarras culturais que nos prendem há tantos anos - o Brasil como um todo. Força, gnt! Esta transição será muito difícil. Haja vista o código florestal: tantas manifestações de vários segmentos da sociedade e qual o resultado? Que democracia é essa,hem.
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